Não deixe seu filho ter um emprego

Quantas vezes te disseram que você deveria estudar muito para ter um bom emprego? Que ter um emprego digno era o que deveria perseguir na vida?

Eu, particularmente, cansei de ouvir isso do meu pai. Claro, era o caminho que ele tinha percorrido, com muito esforço aliás. E o que entendia que os filhos deveriam seguir também. Por algum motivo, nada disso me encheu os olhos. Acabei seguindo uma trajetória profissional diferente e, aos 24 anos, estava abrindo uma empresa.

Não posso dizer que empreender tenha sido um caminho fácil. Passei cerca de um ano sem retirar salários ou dividendos, por exemplo. Foram muitos fins de semana e feriados investidos, noites em claro, viagens cansativas. Mas hoje, olhando para trás, não abriria mão de empreender para ter esse tal emprego. A adrenalina, a busca contínua por desafios, a realização profissional, tudo isso para mim não tem preço.

Mas por que estou falando sobre isso? Pois nos últimos dias estive refletindo sobre o que diria para meu filho, hoje com quase 3 anos, sobre seu futuro profissional. Sobre quais conselhos lhe daria quando estivesse próximo a fazer suas escolhas.

Veja, não digo que meu pai estava errado no que me dizia, até porque não acredito em certo e errado. Para a geração dele, ter um emprego fazia muito sentido. Ele talvez apenas não tenha percebido que a postura das pessoas em relação ao trabalho foi mudando com o tempo.

Hoje cada vez mais gente busca no trabalho um propósito de vida, não um emprego. Busca se dedicar ao que ama e conseguir realização profissional com isso. Esse é o trabalho que conheço e em que passei a acreditar. Mais autônomo e flexível, questionando as relações chefe-empregado. O trabalho que empodera (e não que aprisiona) as pessoas.

Já o emprego tradicional será cada vez mais contestado. Emprego enquanto disciplina e sacrifício para se obter um sustento. Emprego como uma decisão de carreira para o resto da vida, busca por estabilidade e status. Emprego enquanto lógica tradicional de se trabalhar de 9h às 17hs, 5 dias por semana, mesmo não estando motivado, à espera do happy hour de 6ª feira e do salário do fim do mês. Emprego que nos trata como meros recursos de um sistema (aliás, a meu ver a expressão ‘recursos humanos’ deveria ser abolida das empresas).

Questionar essa lógica tradicional de emprego não é uma questão de idade, mas sim de mentalidade. É entender que trabalhar décadas pela força da necessidade e com medo da economia não é mais condizente com o século 21. Podemos e merecemos mais que isso.

Curiosamente, vivi também em minha família um exemplo de contestação do emprego, embora só agora consiga entender a fundo. Falo da minha mãe, que após 20 anos de carreira abandonou a estabilidade no serviço público para atuar com o que gosta, o turismo, e hoje é plenamente realizada. Ela me mostrou que nunca é tarde para mudarmos.

Sei que essa ousadia não é para todos. E mais, se você gosta do seu emprego atual, ótimo. Mas se um emprego nos moldes do que descrevi até agora é sua realidade – e obviamente ainda é a de muitas pessoas– não deixe que seja também a do seu filho.  Digo isso pois estou convicto de que esse emprego tem que acabar.

Talvez meu filho nem precise ouvir isso quando chegar à vida adulta, pois seja algo óbvio até lá. Mas se você tem um filho buscando nesse momento um caminho diferente, acho que vale essa reflexão. Incentive-o a ser parte do futuro, e não parte de um presente que está com os dias contados. Não o deixe ser refém de algo que não gosta como forma de subsistência. Permita-o tomar suas próprias decisões, correr riscos, assumir desafios e se realizar com isso. Ele possivelmente saberá melhor que você como reconhecer oportunidades que combinem paixão e propósito com seu trabalho.

Enfim, não o deixe ter um emprego. Deixe-o ser protagonista de sua vida profissional, encontrando um significado próprio para ela.

© Leandro Jesus, 12/02/2016

 

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